
“O nível estava
muito baixo e, mesmo com as chuvas, o reservatório chegou a pouco mais de 5% da
sua capacidade, o que ainda é muito pouco. As previsões meteorológicas não são
animadoras e nada garante que esse regime de chuva irá perdurar. Por isso, o
momento é de cautela e de acompanhamento diário antes de qualquer alteração de
procedimento”, explica o superintendente de Operação e Contrato de Transmissão
de Energia da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), Ruy Pinto.
Em Minas Gerais, a
cachoeira da Casca D’Anta, primeira queda d´água do rio São Francisco após a
nascente, elevou o seu volume de água em 200% devido às chuvas. “Até o dia 20
de janeiro, tivemos 330 milímetros de chuva acima da média, contra 109,6
milímetros para o mesmo período em 2015. Todas as nascentes estão jorrando
água”, assegura Luiz Castanheira, chefe do Parque Nacional da Serra da
Canastra, onde está a nascente principal do Velho Chico. A alta pluviosidade
resultou positivamente também no centro-oeste do Estado, entorno do
reservatório de Três Marias. A represa teve o seu volume útil duplicado na
última semana, passando de 8,7% para 17,5%.
Já no nordeste do
país, próxima às cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), a usina de
Sobradinho aumentou a sua capacidade hídrica, chegando a 5,5% no seu
armazenamento. Número animador em relação ao 1% registrado no final de 2015.
“Muitos rios e riachos que estavam sem água voltaram a contribuir para o São
Francisco, como o Itapicuru, Ouro, Salitre, Algodões e Tatuí. Eles são
responsáveis por abastecer as principais cidades do lago de Sobradinho, a
exemplo de Pilão Arcado, Casa Nova, Sento Sé”, conta Ivan Aquino, presidente do
Comitê da Bacia Hidrográfica do Sobradinho.
Situação
inversa – O trecho
são-franciscano do oeste da Bahia alcançou uma média pluviométrica de 120
milímetros por dia, recuperando boa parte dos estoques pesqueiros da região,
além de aumentar o desempenho nas atividades de agricultura e agropecuária. “Os
institutos meteorológicos indicavam 2016 como um ano crítico, mas o que se
aponta neste início de ano é o contrário; e isso é muito bom”, afirma Cláudio
Pereira, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco, que
integra o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
As chuvas reverteram
ainda o quadro desolador do Baixo São Francisco, entre os estados de Alagoas e
Sergipe. “As lagoas marginais, antes secas, voltaram a ficar submersas. Isso
devido às fortes pancadas que caem em toda a bacia, em especial na barragem de
Sobradinho, extremamente necessário para a regularização das vazões na região.
Um fato raro nesses últimos anos, e muito bom para todos nós, sobretudo para os
peixes”, diz Antônio Jackson, morador de Pão de Açúcar (AL) e membro do CBHSF.
O ambientalista alerta, porém, que as chuvas, por serem momentâneas, não serão
suficientes para sanar os grandes problemas do rio São Francisco, “que continua
ameaçado e com sérias dificuldades”, pontua.
O Comitê da
Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) é um órgão colegiado,
integrado pelo poder público, sociedade civil e empresas usuárias de água, que
tem por finalidade realizar a gestão descentralizada e participativa dos
recursos hídricos da bacia, na perspectiva de proteger os seus mananciais e
contribuir para o seu desenvolvimento sustentável. A diversidade de
representações e interesses torna o CBHSF uma das mais importantes experiências
de gestão colegiada envolvendo Estado e sociedade no Brasil.