O Brasil e os
Estados Unidos planejam o desenvolvimento e a produção de uma vacina contra o zika
vírus. Segundo revelou ao jornal O Estado de S. Paulo o diretor-presidente da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Jarbas Barbosa, os dois
governos devem costurar um acordo nesta semana, em Genebra. A iniciativa ocorre
no momento em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) emite um alerta de que a
doença deve se espalhar pela maior parte do continente americano.
“Para esse
desenvolvimento de uma vacina, poderemos estabelecer uma rede de cooperação com
os Institutos Nacionais de Saúde americanos (NIH, sigla em inglês)”, declarou
Barbosa que está na Suíça para reuniões na OMS. Segundo ele, a entidade
americana reúne centros que já trabalham com o Brasil na vacina da dengue em
desenvolvimento pelo Instituto Butantã de São Paulo. “Vamos ter uma conversa
aqui em Genebra com os americanos exatamente para isso”, revelou. Barbosa,
porém, aponta que a aliança não estará fechada à participação exclusiva do
Brasil e dos Estados Unidos. “Outros países poderão se unir. É uma preocupação
global”, disse.
Ao jornal, a
vice-diretora-geral da OMS, Marie Paule Kieny, apontou que os trabalhos
“começam a ser feitos”. Ela ressalta, porém, que a comunidade médica não pode
esperar que um produto esteja no mercado em menos de um ano. “Enquanto isso, a
medida que temos de adotar é a de fortalecer o combate ao vetor (o mosquito
Aedes aegypti)”, disse.
A proliferação dos
casos para 21 países também levou a OMS a convocar uma reunião especial em
Genebra para quinta-feira. Será quando a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas)
vai apresentar as últimas informações e dados sobre a realidade da doença e o
Brasil também deve se pronunciar no encontro. O novo cenário já fez a OMS
assumir para si o combate à doença. No comando, Marie Paule disse à reportagem
que, neste momento, faz “um mapeamento de quem está fazendo o que na luta
contra a doença”.
Ebola
Ainda nesta segunda-feira, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, se pronunciou pela primeira vez sobre os casos nas Américas e exigiu que governos notifiquem à organização todos os registros de zika. A OMS foi duramente criticada pela demora em lidar com o surto de ebola, em 2014, e foi obrigada a passar por uma reforma justamente para ter maior controle sobre surtos pelo mundo.
Investigações
internas apontaram que governos e mesmo entidades internacionais abafaram por
meses os casos de ebola, buscando preservar economias locais. A OMS também
admitiu sua culpa ao fazer um alerta sobre o problema somente quatro meses
depois dos primeiros registros.
“O ebola mostrou que
um surto em um lugar pode chegar rapidamente ao outro lado do mundo. Estamos
mais alertas. Não existem mais surtos locais”, disse Chan. “Pedimos
transparência a todos. A proliferação explosiva do vírus para novas áreas
geográficas, com populações com pouca imunidade, é causa de preocupação.”
O mosquito está
presente em todos os países do Hemisfério Ocidental, salvo Chile e Canadá –
onde o inverno rigoroso se torna um impeditivo para o Aedes, sempre registrado
em áreas tropicais e subtropicais. “A Opas antecipou que o zika vírus vai
continuar a se espalhar e provavelmente atingirá todos os países e territórios
onde os mosquitos sejam encontrados”, ressaltou a diretora-geral.