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Festival Ulysses Lins - 130 anos de nascimento e 40 anos de falecimento

Por Josessandro Andrade
Em 1889 nascia na Fazenda Pantaleão, próximo a Albuquerque-Né, Município de Alagoa de Baixo (Hoje Sertânia), Ulysses Lins de Albuquerque. Descendente do colonizador do Moxotó Pantaleão de Siqueira, foi alfabetizado na Escola do Professor Moreira, primeiro professor daqui da nossa região. Ulysses tomou o caminho da poesia e aos 14 anos, em 1905, começou a publicar seus poemas no jornal a Gazeta de Pesqueira, de Zeferino Galvão. Mais tarde iria publicando outros livros de poesia: Ao Sol do Sertão, Fogo e cinza , E a noite vem, sol poente. Depois vieram os livros de memórias: Um Sertanejo e o sertão , Moxotó brabo, três ribeiras.

A grande aceitação dos seus livros, o levou a ser convidado para fazer parte da APL- Academia Pernambucana de Letras. Em seu discurso de posse, entitulado “Exaltação a Poesia Sertaneja”, Ulysses Lins se coloca, chegando naquela casa acadêmica , como um representante dos Vaqueiros aboiadores, dos Cantadores de viola, dos autores de folhetos de cordel, ou seja dos poetas populares do Sertão. Chamou a atenção dos acadêmicos para a necessidade de se valorizar esta produção poética regional, mostrando sua singularidade e beleza. Isto na década de 30, muitos anos antes do célebre Congresso de Cantadores do Nordeste, organizado por Rogaciano Leite e Ariano Suassuna e tido como um marco no resgate da importância do repente. Ulysses além de percussor desta valorização, ampliou-a para além da cantoria de viola , do verso de gado e dos folhetos de feira. Além de poemas que falam do sertão, dos seus contrastes, belezas e sofrimentos, como “Madrugada sertaneja”, “O inverno” , o Sertão no futuro”, neste último, como profeta visionário, ainda na década de 30, prevê a hidroelétrica de Paulo Afonso, a Transposição do Rio São Francisco, a Transnordestina, que só iriam se desenhar na realidade mais de oitenta anos depois. Há ainda poemas que falam de figuras folclóricas como “Pedro Brasil”, um doido que havia em Sertânia, e dramas pessoais do poeta como a perda de familiares, a exemplo de “Rosa, minha Rosa”, onde chora a morte da esposa” e o “Livro de Inah”, que narra a vida e morte de sua jovem filha. Momentos singulares deste poeta são a escrita de um ABC em versos para Virgulino Ferreira , o Lampião, que por conta desta homenagem poética dizia não colocar os pés em Sertânia e o poema “De Joelhos”, publicado sob pseudônimo, já que era funcionário público, e impresso clandestinamente, que serviu como poema de agitação da Revolução de 30, abordando a morte de João Pessoa.na sua passagem pela câmara federal como parlamentar constituinte em 46, ficou conhecido por fazer quadras chistosas sobre os colegas e fatos pitorescos do cotidiano congressista. Na capital federal tomou assento como membro da Federação das Academias de Letras do Brasil, onde trava contato mais intenso com a trova, publicando o livro”Quadras de outras quadras”, o que o faz ficar conhecido como “O Trovador do Sertão”, somando-se ao epíteto de “Patriarca da Literatura sertaneja”, pela sua defesa da literatura das caatingas.
Quando Sertânia foi mudar de nome em 1943, Ulysses Lins foi que sugeriu “Sertânia” como novo nome para o município. Foi ele quem idealizou a criação do Ginásio Olavo Bilac e convidou Abílio Monteiro, Waldemar Cordeiro e Ubirajara Chaves, estes dois últimos escritores. O nome Olavo Bilac deve-se ao fato de Ulysses e Waldemar serem admiradores do poeta parnasiano e do próprio parnasianismo como escola literária passadista.
Em 1979, há 40 anos atrás , a Fazenda Conceição, localizada próxima a Pedro Zumba, o refúgio do poeta, foi palco da sua festa de 90 anos para a qual convergiram pessoas de várias partes, amigos, compadres e familiares. Além da presença do poeta amigo Waldemar Cordeiro, pelas fotografias, da prá ser que o célebre aniversário teve ainda a presença dos cantadores repentistas Gato Velho e Gato Novo, pai e filho cantando improvisos ao som da viola, sempre prestigiados por Ulysses, por mais modestos que fossem, preferia sempre a prata da casa. Estavam também ali presentes, jovens que viram a se tornar grandes artistas , Antônio Amaral, Aprigio Siqueira (Apriginho) e Deodato Frazão. Não se sabia que aquela era a despedida de um dos Mestres do Moxotó, que em 29 de dezembro daquele mesmo ano faleceria no Rio de Janeiro, deixando o sertão órfão do seu poeta maior.
Este ano Este ano de 2019 assinala em 9 de maio os 130 anos do nascimento de Ulysses Lins e os 40 anos de seu falecimento, em 29 / 12/ 2019. Neste sentido, a ACORDES- Associação Cultural de Sertânia, em parceria com a SAPECAS- Sociedade dos Poetas , Escritores, Compositores e Artistas de Sertânia e a família do mesmo, estarão juntos promovendo o Festival Ulysses Lins,No intuito de celebrar a obra e a memória do poeta –escritor nestes datas tão marcantes.
Na programação, Sarau de Poesia com alunos da Escola professor Jorge de Menezes, aula passeio com os alunos da referida escola na fazenda Conceição e visita a casa-Museu de Ulysses ainda hoje preservada pela família, bem como lançamento da 2º edição da Antologia poética dele , revista e ampliada (No Recife, na APL- Academia Pernambucana de Letras, com a presença da filha Theresinha Lins em Sertânia, na Rua Velha em frente a Igreja Matriz) assim como Recital-show da SAPECAS , apresentação dos poetas Sérgio Lins( neto) e Túlio Lins Araujo (sobrinho-trineto)e depoimentos dos estudiosos da obra de Ulysses, prof. Dr. Antônio Jorge de Siqueira, e o escritor , poeta e dramaturgo Marcos Cordeiro , bem como o neto e organizador da Antologia Leonardo Lins.
Esperamos contar com o apoio de toda sociedade sertaniense neste evento, para que possamos render ao Trovador do Sertão a justa homenagem que o mesmo merece, fazendo ecoar do Moxotó o seu canto de amor pelo Sertão, pela natureza, pela sua gente e por sua terra. O Patriarca da Literatura sertaneja, cuja obra obteve o reconhecimento de poetas e escritores como Manuel Bandeira, Menotti Del Piccha, José Lins do Rego, entre tantos outros nomes nacionais, não esquecendo alguns sertanienses como Alcides Lopes de Siqueira( primo e afilhado), Corsino de Brito e Fernando Barros Patriota, verá onde estiver o seu legado ser preservado e festejado pelo seu povo. A obra Ulysssiana , que em prosa e verso é a Bíblia da literatura sertaneja cuja Antologia representa o Evangelho versificado da poética do Moxotó, o Sertão de Mil Veredas, especialmente de Sertânia como República da Poesia.
Josessandro – É poeta, compositor e autor teatral. Vice-presidente da ACORDES- Associação Cultural de Sertânia e membro da SAPECAS- Sociedade dos Poetas, Escritores, Compositores e Artistas de Sertânia.
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