A presidente Dilma
Rousseff pode ter trocado um pacote de ministérios sem verbas por mais três
anos de governo. Isso mesmo. Ao entregar o ministério da Saúde para o PMDB e,
de quebra, mais outras pastas menores, ela pode ter conseguido aquilo que para
toda a classe política era inimaginável: tempo para continuar no governo e
poder gerenciar a crise política e econômica em que se meteu.
Calma. Para entender
como ela fez isso tem que voltar ao passado. É preciso voltar a 2005 quando
explodiu o escândalo do Mensalão e o PT abandonou Lula e foi cuidar de sua vida
pensando em voltar as ruas como oposição. E Lula, assim como Dilma hoje, foi
buscar (sozinho) ajuda para salvar seu governo. Foi pedir (e recebeu) ajuda do
PCB do B, de Aldo Rebelo – certamente o partido mais fiel ao projeto de poder
liderado por Lula – e o PSB liderado por Eduardo Campos.
As pessoas esquecem
e o PT nunca admitiu isso. Mas foi a dupla Eduardo/Rebelo quem saiu de gabinete
em gabinete costurando o apoio que livrou Lula de ser escorraçado do Governo. É
claro que o PMDB também ajudou, mas depois. Isso não quer dizer que todos os
deputados deram Lula por perdido, mas que no meio da crise o partido dele não
fechou com ele. Ah não fechou mesmo.
Quis o destino que
Dilma precisasse desse mesmo tipo de costura só que dessa vez com o PMDB.
Porque embora isso possa ser frustrante para muita gente é preciso reconhecer
que, a partir desta quarta-feira o impeachment ficou muito mais distante.
Ele pode acontecer?
Pode! Mas ficou muito mais difícil. Eduardo Cunha não vai colocar em votação e
ao revelar o ritual necessário nesta quarta-feira, praticamente disso ao PSDB
não contem com isso. Terão que se virar para aprovar isso no plenário.
O que aconteceu na
madrugada desta quarta-feira não foi a manutenção dos vetos. Foi a
reorganização de uma base mínima de apoio no Congresso. Talvez suficiente para
dar uma sobrevida a Dilma.
Ela pode ser
impedida? Pode. Mas ficou mais difícil. Vai precisar de muito barulho na rua,
muita denúncia da Lava Jato envolvendo ela. E que o TCU reprove as contas dela
em 2014. E ter o clamor das ruas motivada por uma onda de indignação provocado
por um fato novo.
É preciso entender o
que diabos aconteceu com o PMDB para se abraçar com Dilma. Talvez ele tenha
feito uma conta simples. Uma coisa é ser sócio de um governo ruim com o PT
pianinho. Calado e sem força. Outra é liderar um governo com o PT todo na rua
dizendo que foi golpe.
O que as pessoas
esquecem é que quem seja o presidente, as chances da nossa economia voltar a
crescer são mínimas. Um novo presidente animaria muito os agentes econômicos,
mas um “novo presidente” que não seja Dilma, significa o PT demitido dos seus
cargos comissionados incendiado o país. Então os deputados do PMDB estão
virando sócios majoritário de Dilma e não do PT.
Tem mais: assim como
depois de se salvar Lula abandonou Jose Dirceu e nunca mais ligou para ele,
pode ser que Dilma – se conseguir se juntar com o PMDB – abandonar Lula que,
como isso, abandonou e vem ajudando a criar um clima de desembarque já pensando
em 2018. Não é deixar de ouvi-lo. É ouvi-lo menos e agora com mais cacife.
Se Dilma sobreviver
o que assegura que ela não vai respeitar Lula como até hoje. É preciso não
esquecer que quem está no comando das negociações é Dilma. É ela quem está defendendo
o governo dela mesma. A seu jeito, e com os que pode contar, se conseguir
organizar algum apoio no Congresso e sobreviver politicamente terá virando uma
liderança. Pode até cair amanhã. Mas ela está defendendo o seu governo com as
armas que tem.
Vai dar certo? Quem
sabe? Negociar com o PMDB é como tentar comprar um terreno de uma família que
está brigando num inventário. Todo mundo acha que o irmão está roubando os
outros.
O fato novo é que
Dilma está tentando garantir, neste momento, algum tempo de governabilidade.
Tentando ganhar tempo já que qualquer ministério não vai ter verba de
investimento mesmo este ano e nem em 2016.
O país está
quebrado, do dólar a R$ 4,15, o caixa furando e nenhum ministério vai ter verba
para investir. O que conta são os cargos. Joaquim Levy não vai dar dinheiro
para fazer gracinha. Mas para o “deputado-ministro” isso é o bastante. Até
porque nenhum deles vai se meter a roubar depois da Lava Jato.
E aí, para terminar,
tem uma coisa que é fundamento nesse jogo. Tudo depende da Lava Jato.
Inclusive, para Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Michel Temer e Dilma Rousseff.
Se a Lava a Jato não
trouxer fatos novos, podemos estar diante de uma sobrevida de Dilma. Para
desespero do PSDB que, mais uma vez, apostou no sangramento do um presidente e
vai ficar olhando a história passar coma chegada do SAMU, ou melhor, o PMDB.
Mas o que esperar de
um partido cujo presidente que, governando Minas Gerais, comprava pão e leite
todo fim de semana no Rio de Janeiro? Depois das 124 viagens de jato privado
que Aécio fez como governador de Minas ela vai ser presidente de onde?
Do JC Online