O jornalista Sidney
Rezende, 57 anos, falou pela primeira vez neste final de semana sobre sua
demissão da GloboNews em novembro do ano passado, sem direito a comunicado de
despedida. Diante de 600 pessoas, em uma premiação dos melhores do Carnaval do
Rio de Janeiro, Rezende fez no sábado (27) à noite um duro discurso contra a
Globo, onde trabalhou durante mais de 20 anos.
Disse que a emissora
está “extrapolando os seus limites” e “impedindo que as expressões populares do
nosso país funcionem de uma maneira mais clara”. “A Globo não é dona do Brasil,
a Globo não é dona do Carnaval, a Globo não é dona do futebol”, bradou, propondo
um “questionamento de competência” da emissora.
Jornalista
respeitado nos meios profissional e acadêmico, Rezende foi o criador do modelo
de programação da rádio CBN e um dos fundadores da GloboNews. Ele foi
dispensado pela Globo em 13 de novembro, um dia depois de publicar em seu site,
o SRZD, um texto em criticava a obsessão dos jornalistas por notícias ruins e
pela aposta no impeachment da presidente Dilma Rousseff como “único caminho
para a redenção nacional”.
Seu afastamento, no
entanto, teve mais a ver com a renovação dos apresentadores da GloboNews e com
uma movimentação para acomodar Christiane Pelajo, afastada um mês antes do
Jornal da Globo. O novo telejornal de Pelajo, a partir de hoje, vai ocupar o
mesmo horário de Rezende.
O contrato de Rezende
com a Globo só venceu ontem. Por isso, o jornalista ficou em silêncio até o
último sábado. Aproveitou a premiação do Carnaval que seu site promove para
expor seu posicionamento diante da emissora e anunciar que, em março, vai se
engajar em um projeto ambicioso que unirá televisão, rádio e internet. Foi a
primeira vez que Rezende fez uma crítica contundente à Globo em público (embora
sempre as tenha feito em conversas reservadas).
A fala de Rezende
foi uma reação ao que ele chama de interferência da Globo nos horários do
futebol e dos desfiles das escolas de samba. “A Globo está ultrapassando os
seus limites como meio de comunicação no momento em que interfere em horários
de festividades, nas partidas de futebol, nos desfiles das escolas de samba,
quando adequa as festividades populares a uma grade de programação de seu
interesse”, explicou ao Notícias da TV.
Para o jornalista, o
prestígio da Globo “tomou um viés que acabou sufocante para as expressões
culturais”. Rezende afirma que, como detentora da transmissão, a Globo tem todo
o direito de exigir um bom espetáculo. No caso do Carnaval, pode determinar
quantas câmeras e quantos microfones captarão a transmissão, mas não impor o
ritmo e o tempo do desfile, como vem gestando nos bastidores. “Ela [a Globo]
não pode interferir no processo de criação de maneira sufocante”, afirma.
Em seu discurso,
Rezende fez questão de ressaltar as qualidades da rede de TV. “A Globo é uma
das joias da Coroa do Brasil, é uma das empresas mais importantes da
comunicação, tem grandes inteligências”, afirmou. O jornalista também ressalta
que não tem mágoas da emissora, que não é uma “viúva”.
O que defende, a
partir de hoje, é uma “alternativa a este modelo único”. Sem revelar detalhes,
diz que seu novo projeto profissional será uma dessas alternativas, algo
“ambicioso” que irá “ao encontro do espírito público”. “Não estou criando
nada deliberadamente contra a Globo. Não sou viúva da Globo. Estou contra o
olhar único”, diz.
Sobre sua demissão
da GloboNews, Rezende foi econômico. Afirmou em seu discurso, em um salão do hotel Windsor Barra, que foi uma “decisão
absolutamente tranquila”, porque entende “que toda empresa tem o direito de
fazer o que quiser em relação aos seus funcionários”. Na época em que foi
demitido, no entanto, Rezende não concordou com uma nota oficial em que seria
dito que ele estava saindo da emissora a pedido, para cuidar de seu site.
Acabou ficando sem a despedida em que o diretor geral de jornalismo, Ali Kamel,
enumera as qualidades profissionais do dispensado.
Procurada, a Globo
não quis comentar as declarações de Rezende.