A poeira assentou
ao final da manhã em Saint-Denis, passadas mais de sete horas de combates
violentos entre as autoridades francesas e uma equipa de jihadistas barricados.
Foram disparados perto de 5000 tiros contra as dezenas de agentes das forças
especiais que tomavam de assalto o número oito da Rua Corbillon. Pelo meio, uma
jovem mulher fez-se explodir. Antes da operação, a polícia acreditava estar a
chegar ao edifício onde se escondia o orquestrador dos atentados de Paris.
Estaria no terceiro anda. Assim lhes diziam escutas telefónicas, testemunhos e
vigilância a suspeitos.
Oito pessoas foram
detidas e pelo menos duas morreram ao cabo das operações, mas o procurador de
Paris não abriu o jogo. François Molins disse nesta quarta-feira não saber se o
belga Abaaoud morreu no raide, recusou-se a especificar quantos corpos estão no
edifício e a dar a identidade dos detidos. Segundo ele, os especialistas
forenses estão ainda a analisar os corpos.
O único que que diz
é que Abaaoud, o jihadista com mão em mais de cinco ataques terroristas na
Europa, e Salah Abdeslam, o oitavo atacante de Paris, não foram detidos. O
mesmo acontece presumivelmente com o segundo suspeito em fuga. Isto se ele não
for Abaaoud, que até hoje se pensava estar na Síria. A polícia está certa de
que participou nos ataques aos bares e restaurantes do 10º e 11º bairros da
capital. Viram-no num vídeo, mas pouco mais parecem saber sobre ele.
O diário
norte-americano Washington
Post não é tão cauteloso.
Cita dois altos responsáveis europeus próximos da investigação que asseguram
que o corpo de Abaaoud foi já identificado. O mesmo jornal e outros na imprensa
francesa escrevem também que a mulher que se fez explodir era uma prima sua.
Três dos detidos foram capturados logo que as forças especiais chegaram ao
edifício. Já com os dois presumíveis extremistas mortos, a polícia retirou
outros dois suspeitos de entre os escombros causados pela explosão da bombista
suicida – a detonação aconteceu dentro do edifício, que vacilou, mas não ruiu.
Foi também detido o senhorio do apartamento e “um conhecido seu”. Nada se sabe
sobre a oitava detenção.
Molins, que não o
confirma, avançou com os resultados do dia. O mais provável é que a operação em
Saint-Denis tenha impedido um novo atentado em Paris. “Tudo deixa a entender”
que as pessoas detidas e as que morreram no assalto estavam prestes a entrar em
acção. Segundo o procurador, no edifício encontrava-se “um total arsenal de
guerra”, que incluía espingardas automáticas Kalashnikov, munições e
explosivos. Horas depois do fim das operações, a Reuters avançava que esta
célula de Saint-Denis estaria a preparar um ataque ao distrito comercial de La
Defense.
Fugitivo
ainda: A cada dia que passa, somam-se indícios de possíveis
falhas na acção das agências de informação europeias, incapazes de evitar os
ataques a Paris apesar de todos os terroristas identificados – faltam dois,
ainda – estarem nos registos francês e belga como presumíveis radicais. A
Bélgica admitiu nesta quarta-feira que interrogou e vigiou ambos os irmãos
Abdeslam antes dos atentados, mas que não os considerou então perigosos o
suficiente para que os detivessem. Salah está agora a monte e Ibrahim fez-se
explodir no restaurante Comptoir Voltaire, ao fim de uma chacina de dezenas de
pessoas em bares e restaurantes parisienses.
“Sabíamos que
estavam radicalizados e que poderiam ir para a Sìria”, afirmou à versão
europeia da revista Politico uma porta-voz do procurador-geral da
Bélgica. “Mas não mostraram nenhum sinal de ameaça possível. Mesmo que
tivéssemos alertado , duvido que eles pudessem tê-los travado”, concluiu.
François Molins
confirmou de Paris que Salah foi mandado parar pela polícia na manhã de sábado,
à entrada para a Bélgica. O seu nome, contudo, não tinha ainda sido transmitido
às autoridades, que o deixaram partir. O procurador de Paris não confirmou se
os dois homens detidos no sábado em Bruxelas e entretanto acusados de
actividades terroristas foram quem fez a viagem com Salah, já depois dos
ataques.