Na mensagem enviada
ao Congresso no dia 2 de fevereiro deste ano, para o início dos trabalhos do
Legislativo, a presidente Dilma Rousseff assegurou que não iria promover
“recessão ou retrocessos”.
Após 11 meses, o
Brasil está em plena recessão e passa por retrocessos em diversas áreas, como o
rebaixamento por duas agências de risco.
Mas esses não foram
os únicos compromissos não cumpridos. Dos objetivos que estavam na mensagem, muito
pouco foi para frente.
Das 34 principais
metas para 2015 que Dilma especificou na mensagem, só 11 (32,3%) foram
atingidas, enquanto 17 (50%) tiveram desempenho insatisfatório.
Outras 6 (17,7%)
saíram do papel em parte, uma vez que o prazo fixado para implementação vai
além deste ano.
“Em 2014, o Brasil
parou à espera da eleição; em 2015, o Brasil tombou”, diz Guilherme Mello,
professor do Instituto de Economia da Unicamp. “Crédito, inflação, crescimento
e emprego, tudo isso teve uma deterioração muito superior ao que qualquer um
esperava.”
Em 2015,
praticamente as únicas metas econômicas atingidas pela presidente foram
aumentos de impostos.
Segundo Mello, era
necessária mudança na política econômica, porque não deram certo a estratégia
de subsídios às indústrias e as tentativas de reduzir juros do primeiro mandato
de Dilma.
Mas o professor vê
luz no fim do túnel-para ele, boa parte do ajuste já foi feita, e o país inicia
2016 melhor.
Já o especialista em
finanças públicas Mansueto Almeida acredita que o pior do ajuste ainda está por
vir.
“Estamos muito longe
de ter concluído o ajuste: o corte de gastos se deu à custa de enorme redução
no investimento público, de 40% até outubro, e mudança no cronograma do
pagamento do abono salarial, que é uma economia temporária”, diz.
Segundo ele, as
despesas obrigatórias continuam crescendo muito o gasto com INSS em 2015 e 2016
vai aumentar 0,9 ponto porcentual do PIB e o déficit da Previdência vai chegar
a 2% do PIB.
Mansueto diz que
Dilma “colhe o que plantou”. Segundo ele, de 2008 a 2014, a dívida pública
cresceu R$ 500 bi, grande parte subsídio a empréstimos de bancos públicos.
“O processo de
arrumar a casa ainda vai levar muito tempo; no ano que vem é necessário aprovar
ajustes estruturais para possibilitar que as despesas obrigatórias cresçam
menos que a inflação, mas não vejo a presidente ter base política para isso.”
EDUCAÇÃO
SOFRE
Com a necessidade de
cortar gastos e a falta de apoio no Congresso, todas as áreas do governo
sofreram em 2015. Nem o Ministério da Educação, estrela do plano Pátria
Educadora, salvou-se. Algumas metas importantes, como a entrega de creches,
foram cumpridas. Mas a maioria ficou muito aquém.
“Considerando o
quanto estamos atrasados, os resultados são decepcionantes”, diz Naercio
Menezes, coordenador do centro de políticas públicas do Insper.
Segundo Menezes, é
necessário fazer que municípios e Estados melhorem a qualidade da educação que
oferecem, aumentando o número de horas aula, reformulando o currículo das
faculdades de pedagogia, dando incentivos para os melhores professores e alunos
e reforço para os jovens que têm dificuldade.
O colunista da Folha
Celso Rocha de Barros, doutor em Sociologia pela Universidade de Oxford,
adverte que o problema não é este ano, mas sim a conta dos anteriores: “2015
foi o ano de consertar o que estava errado.”