Na casa de Raquel Abelardo, 36, o mau
cheiro e os mosquitos são rotina. Segurando o neto de oito meses repleto de
picadas de insetos, a dona de casa recebe o UOL na porta da pequena residência
onde eles mora, no bairro da Levada, em Maceió, onde o esgoto corre a céu
aberto a menos de dois metros da vila onde vive.
A casa
está em uma estatística que se tornou uma das marcas do Brasil: a falta de
saneamento básico. Dez anos após sancionada a Lei do Saneamento Básico, uma em
cada três casas do país ainda não têm esgoto ligado a rede.
Um
levantamento da Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
Ambiental), com base nos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), mostra
que, em 2015 –ano com dados mais recentes disponíveis–, 34,7% dos lares
brasileiros estavam fora da rede de esgoto, o que significa 69,2 milhões de
pessoas sem acesso ao esgotamento sanitário com mínima qualidade.
“Hoje, as
escolas brasileiras tê, mais acesso à Internet (41%) que a esgoto (36%). Não
que não seja importante, mas mostra bem as prioridades do país”, afirma o
presidente da Abes, Roberval Tavares.
O estudo
da Abes fez um comparativo do crescimento entre 2008 e 2015. Os dados de 2006 e
2007 não foram usados porque, segunda a entidade, possuía uma metodologia
diferente –o que impediria comparações fidedignas.
No
esgotamento sanitário por rede, a cobertura avançou 6 pontos percentuais nesse
intervalo de 7 anos, passando de 59,3% para 65,3%. Nesse período, 10,3 milhões
de pessoas passaram a ter cobertura.
O
saneamento básico inclui outros dois itens, que têm melhor cobertura que o
esgoto. O abastecimento de água, por exemplo, chegava a 85,4% dos lares em
2015. Já a coleta de lixo tem o melhor índice de cobertura entre os três
quesitos, com 89,8% dos domicílios brasileiros atendidos.
Mesmo
assim, no Brasil, 29 milhões de pessoas permaneciam sem acesso ao abastecimento
geral de água por rede, e 20,5 milhões, sem coleta de lixo.
Além do
alto índice de casas sem esgotamento sanitário, o país convive com outra
realidade desafiante: nas diferenças regionais. Enquanto no Sudeste há 88,6%
dos domicílios com esgoto ligado à rede, apenas 22,6% têm o serviço no Norte;
ou 42,9%, no Nordeste. Sul (65,1%) e Centro-Oeste (53,2%) têm índices mais
próximos da média nacional.
A
diferença também faz parte da estatística de abastecimento de água, onde o
Sudeste lidera mais uma vez com 92,2% das casas recebendo água, contra 60,2% do
Norte.
No
quesito coleta de lixo, as desigualdades existem, mas em diferenças menores.
Enquanto no Sudeste tem 96,4% dos domicílios atendidos, no Nordeste são 79,1%.