Por Josessandro Andrade.
Do Tribuna do Moxotó.
A Cultura é a alma de um povo, aquilo que sente, as suas formas de criar e expressar o que sente, as suas tradições e raízes, os seus costumes e ofícios. A leitura é um dos instrumentos pelos quais adquirimos cultura. O Ser humano que constrói o ato de ler como um hábito de vida, desenvolve a cidadania de forma ampla e integral. Juntas, cultura e Leitura são alicerces básicos para um povo se emancipar como sujeito de sua própria história.
Em Sertania a Cultura e a leitura enquanto políticas públicas vem experimentando um grande retrocesso na atual gestão municipal.
A Prefeitura, através da Secretaria de educação, esvaziou o projeto Eu Gosto de Ler, programa que obteve sucesso na administração passada em parceria com o Ministério Shalon.
Na Gestão passada, através do trabalho da Secretária de Educação Marisa Valéria houve um grande incentivo a leitura. O Projeto Eu Gosto de Ler aconteceu em quase todas as escolas maiores da zona rural, em média 15 escolas e também na zona urbana nas escolas Isaura Xavier e Etelvino Lins. Também foram distribuídas bibliotecas móveis pra escolas que não possuíam bibliotecas. Foram exatamente 25 bibliotecas móveis.
No governo atual A Promessa de construir um Prédio novo para a biblioteca municipal mesmo após um ano de mandato não foi cumprida. O Pior é que não se tem nem previsão. O que vimos foi o serviço da mesma piorar com a transferência de funcionários por perseguição política e várias denúncias e reclamações de usuários em relação ao precário funcionamento dos serviços , inclusive corte da internet e fechamento da biblioteca. Por longo período sem justificativa. Nada disso era de se estranhar, afinal o atual governante nunca cultivou a leitura e sempre abominou o ato de ler , muitas vezes depreciando quem gosta de ler.
Na Questão da Cultura o resultado é ainda pior. No início da Gestão acabou com A Secretaria de Cultura e a fundiu com a Secretaria de educação. Só de boca , pois na surdina nomeou um Secretário fantasma , somente para receber o salário , sem nunca ter dado expediente ali. Depois , por questão de conchavo eleitoreiro, nomeou um vereador como secretário , para abrir vaga na Câmara para um suplente de vereador. Uma pessoa que não tem perfil nenhum para o cargo de Secretário de Cultura. O prefeito fechou as Escolas de Sanfona, de Dança, de teatro , de Violão e de bateria. Por odiar a poesia e desprezar os poetas mandou apagar a Praça dos Poemas e A Estação das Letras. Vandalismo oficial , ignorância e maldade.
Os Artistas da terra são desvalorizados e tratados com desdém. O atraso na quitação de cachês se alia a negligência geral como é o caso da empresa de som e luz do espetáculo Paixão do Sertão, que mesmo sendo realizada em abril, até o início de dezembro não havia recebido da
prefeitura de Sertânia ,(a patrocinadora responsável ) o pagamento do serviço prestado. Artistas de Sertânia da área de frevo não tem mais espaço no carnaval de Sertânia , tendo que ir tocar nos carnavais de Recife e Olinda. Da mesma forma os sanfoneiros e bandas sertanienses não tem mais espaço no São João das escolas e nos arraiais dos bairros. Oferecem cachês irrisórios pra os artistas locais, alegando que é pegar ou largar , pois segundo a prefeitura em outras cidades conseguem Artistas bem mais barato. É o pior de tudo foi ressuscitado a perseguição política aos artistas de Sertânia: quem não votou no atual prefeito não toca. Um exemplo vergonhoso desta retaliação foi a exclusão do grande artista sertaniense Mestre Chico. Arruda , da programação de shows da Exposição, quando o show deste nosso Cantor já era uma espécie de cartão postal do evento. Muitos reclamam do abandono da cultura, do maltrato aos artistas sertanienses e da Crise que atinge as artes em nosso município, haja visto que hoje pouco se produz , com tamanho desestímulo. Mas , poucos tem coragem de se manifestar , temendo represálias do Coronelismo político implantado em Sertania. Os artistas da terra vivem em Sertânia um tempo de Opressão e tirania.
Sem ouvir os grupos culturais e artistas , sem sequer realizar a Conferência municipal de Cultura ( se houve o Movimento cultural da cidade não ficou sabendo), o atual governo municipal segue sem planejamento cultural e sem nenhuma política pública de Cultura. Em um ano nada de Cadastro cultural quê é por onde todo trabalho sério de órgão público de Cultura deve começar. Nada no turismo nem no Patrimônio histórico.
Com mentalidade eventologica , na prática nem isso consegue funcionar direito. Mal consegue realizar uns poucos eventos nada originais e nada criativos , sendo na maioria eventos de formatos e atrações copiados da gestão passada ou de outras cidades da região. Acabaram com o Festival de Cantadores e eventos da tradições culturais da zona rural como a Cavalgada e a Cavalgada. As Pegas- de - boi perderam apoio.
Somente quem não conhece ou não conhecia o atual prefeito poderia acreditar e defender que o mesmo faria uma Gestão cultural que Sertânia merece. Quem ouviu o mesmo , em reserva, dizer que se dependesse dele acabava com Poesia , Paixão de Cristo e Semana Estudantil. Ou afirmar que o povo não precisa de Cultura, precisa é de feira , de estrada e de água. Ou ainda bradar estufando o peito que não gosta de gastar dinheiro público pra pagar a artistas desocupados preferindo pagar a homens de porte físico pra cavarem obras e trabalharem no pesado , já sabia que o mesmo jamais teve ou terá sensibilidade para a Cultura ou para qualquer outra coisa. Essas promessas sinceras feitas por ele ao seu beijo próprio íntimo já estão sendo cumpridas. Pelo menos em parte. Quanto as promessas de campanha pra cultura que foi na onda ou não conhecia o João Dória sertanejo ou então tinha apenas a intenção de buscar alguma boquinha de cargo ou espaço. Muita gente está arrependida mas tem medo de se manifestar. É uma pena. São tempos de medo. Afinal como disse o Poeta:
"Prefeito que não apoia
Os artistas e a Cultura
A Cidade fica morta
Sem beleza e sem ternura
Pois um coração de pedra
Pulsa lá na Prefeitura."
É natural que quem age de maneira coronelista não goste da leitura e da Cultura. Elas educam a sensibilidade das pessoas, provocam reflexão , desenvolvem o senso crítico, fazem pensar e com isso libertam as pessoas. É ter pela frente gente independente e livre é tudo que um governante opressor abomina.
*Josessandro Andrade é professor da rede oficial de ensino de Pernambuco e vencedor do prêmio Viva Leitura e criador do Flis - Sertão.